Ainda Estou Aqui vai ser indicado ao Oscar? Quais as chances do filme?
Ainda Estou Aqui é a maior chance do Brasil no Oscar em muitos anos. Quais as chances reais do filme na premiação?
Ainda Estou Aqui é um sucesso absoluto de crítica e público. O filme de Walter Salles, com Fernanda Torres e Selton Melo no elenco, já despontou como a melhor chance do Brasil no Oscar em mais de 25 anos. Mas quais as verdadeiras chances do filme na premiação?
O início da jornada
A corrida para o Oscar de Melhor Filme Internacional (antes conhecido como Filme Estrangeiro) começa no início do ano, no Festival de Cannes. É ali, no maior festival de Cinema do mundo, que as primeiras peças vão se posicionando.
Este ano não foi diferente, e dois dos maiores competidores surgiram lá: Emilia Pérez, da França, e The Seed of the Sacred Fig, da Alemanha. Ainda assim, um dos favoritos ao prêmio surgiu depois do festival. O longa brasileiro começou sua jornada em outros eventos da Sétima Arte e, aos poucos, despontou como um favorito.
Qual o cenário e a concorrência de Ainda Estou Aqui?
Hoje, existem três favoritos muito claros: o brasileiro, o francês e o alemão. Mas quais as chances de Ainda Estou Aqui frente a estes competidores?
Para começar, Emilia Pérez e Sacred Fig compartilham o mesmo problema: ambos se passam em países pelos quais não concorrem. O primeiro é o representante da França, mas se passa no México e conta uma história notavelmente latina. O segundo é defendido pela Alemanha, mas é, para todos os efeitos, uma obra do Irã.
Não queremos afirmar que se trata de uma concorrência desleal, mas é importante apontar que há certas liberdades na categoria. Emilia Pérez é dirigido por um homem branco francês que tenta contar uma história latina e feminina. E o fato é que ele falha em todos os aspectos. Pérez é um embaraço completo, do roteiro às atuações. Não funciona como drama, comédia e muito, mas muito menos, como musical.
The Seed of the Sacred Fig, por outro lado, é um filme muito melhor que Emilia Pérez. Ainda assim, possui problemas claros de ritmo, num roteiro que se repete e não sabe como amarrar os temas que levanta.
E não estamos fazendo tais críticas num ímpeto bairrista. Não precisamos desmerecer os concorrentes para revelar que Ainda Estou Aqui é excelente. É importante apontar, contudo, que os dois maiores adversários do longa brasileiros possuem problemas que serão notados pela Academia.
Neste sentido, ser uma história essencialmente brasileira, feita por brasileiros e sendo um sucesso no país, ajudará o projeto de Salles.
O que pesa contra Ainda Estou Aqui? E a força social dos filmes
A favor de Emilia Pérez temos a tradição da França no Oscar, o apoio e a relevância de Cannes e o elenco estelar. Desde o festival, o filme desponta como garantia em diversas categorias, principalmente Melhor Atriz, Atriz Coadjuvante, Roteiro, Edição, entre outras. O fato de ter surgido como certeza em outras categorias, colocar o representante francês na dianteira.
O que pode retirá-lo do topo é o fato de ser um filme problemático. E o público e a crítica em geral tem percebido isso desde que o longa estreou na Netflix norte-americana. Assim, é possível que o filme perca força.
Já The Seed of the Sacred Fig é um filme de forte mensagem política e social. Além disso, o longa chamou atenção em Cannes depois que o diretor, Mohammad Rasoulof, fugiu do Irã para pode divulgar sua obra. O cineasta fora condenado à prisão em seu país, e sua fuga foi vista – com razão – como um ato heroico.
Ainda Estou Aqui, contudo, também pode se beneficiar deste apelo social, político e cultural. Afinal, os Estados Unidos passam por momentos turbulentos, com eleições tumultuadas e choques políticos intensos. Esta batalha travada no país pode encontrar ecos na narrativa do longa brasileiro.
E em Melhor Atriz, Fernanda Torres tem chances?
A resposta rápida e fácil é sim. A corrida de Melhor Atriz, contudo, é um desafio diferente. Para começar, Ainda Estou Aqui desponta como favorito em Filme Internacional, podendo não só ser indicado como também vencer a categoria. Já em Melhor Atriz não há tanto favoritismo.
A corrida das atrizes tem sido acirrada há alguns anos. E em 2024 não será diferente. Algumas artistas já correm na frente há meses, enquanto outros nomes mais famosos estão fortes nas apostas justamente por terem peso na indústria.
Angelia Jolie, por exemplo, estrela um filme pouco badalado, mas sua atuação tem sido elogiada. Nicole Kidman vai na mesma esteira: seu filme, Babygirl, não é a escolha mais típica para a Academia, mas sua performance tem sido marcada como a melhor coisa do projeto.
Fora os “medalhões” de Hollywood, ainda há as novatas que correm na dianteira: Mikey Madison, de Anora, e Karla Sofia Gascón, de Emilia Pérez. Além destas, ainda há Demi Moore, por A Substância, Tilda Swinton, por The Room Next Door, Cynthia Erivo, de Wicked e Marianne Jean Baptiste, por Hard Truths.
Fernanda tem chances por ter, de fato, uma das melhores performances da temporada. Além disso, é a força motriz de seu longa. Moore, Swinton e Erivo podem perder força por dividirem a tela com outras atrizes que aparecem tanto quanto ou mais que elas.
Além disso, uma artista estrangeira frequentemente se dá bem no Oscar. Este ano, contudo, uma estrangeira já tem chamado atenção: Gascón, por Emilia Pérez. Duas coisas são possíveis: ou as duas serão nomeadas ou Pérez ficará de fora graças à confusão acerca de seu protagonismo (há quem considere Zoe Saldana a principal atriz do filme, não Gascón).
E em outras categorias?
Até a categoria de Melhor Filme não é um sonho distante. Na edição passada, dois longas internacionais foram indicados. Além disso, a concorrência este ano está bem mais fraca, o que pode abrir caminho para os estrangeiros mais fortes.
Roteiro Adaptado também é uma possibilidade, e pode ser uma indicação de consolação, caso Melhor Atriz não se concretize. Além disso, é bem difícil que Ainda Estou Aqui apareça em outras categorias principais ou técnicas.
Em resumo, a indicação a Melhor Filme Internacional é quase certa. Melhor Atriz será difícil, mas é bem possível. Roteiro é uma aposta arriscada, mas dependendo da recepção do filme, é possível que também se encaixe.